sábado, 5 de dezembro de 2009

Uma Ausência

"Faz frio no lugar onde te sentaste.
Cai um Novembro pardo, ameno nas conversas do tempo e há pessoas na rua a olhar para tudo o que não enxergam. Nem por isso o Sr. Lopes arrecada mais clientela; Ele que é o oculista responsável pela impossível missão de colocar uma velha toupeira a ler, de uma só golfada e sem gaguejar.
Faz frio no lugar que desprezaste.
Tenho os braços pendentes, derrotados no pesado acompanhar do corpo e não me apetece uma bebida quente, prefiro-a fria. O que por dentro queima é o baço inverso do que, por fora, me arrepia. Membros caídos, cigarro entre lábios e imagino-me a sorrir entre orelhas, através dos braços e condoído das pernas – a sorver o branco que te fará nevar.
Faz frio no lugar que, no repente, negaste.
Asfixiante e poderoso, o vento que corta palavras e congela o pensamento. Neste frio sentir matriculado, vive a incerteza de um tempo que é vizinha da dúvida e parente do Lopes, senhor letrado que, antes de ver, ensina a mais comum forma de olhar. Entre este espaço e a névoa que tudo abraça, sobra uma distância que os olhos não medem; Só poderão pestanejar.
Faz frio no lugar onde te pensei ver sentada.
Lugar onde nunca o estiveste."

Sem comentários: