quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"...todas as grandes paixões são sem esperança, de outra forma não seriam paixões, apenas acordos, compromissos razoáveis, trocas de interesses banais. odiavas-me e esse ódio era um laço tão forte como se me tivesses amado. (...)"

'as velas ardem até ao fim' [dom quixote, 2ªedição, 2002, pág. 99] - sándor márai

sábado, 12 de dezembro de 2009

A gaivota

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
morreria no meu peito,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.


Perfeito o meu coração.

Perfeito o meu coração.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

"You see, madness, as you know, is like gravity. All it takes is a little push! "

Lembranças

Lembranças, que lembrais meu bem passado,
Pera que sinta mais o mal presente,
Deixai-me, se quereis, viver contente,
Não me deixeis morrer em tal estado.

Mas se também de tudo está ordenado
Viver, como se vê, tão descontente,
Venha, se vier, o bem por acidente,
E dê a morte fim a meu cuidado.

Que muito melhor é perder a vida,
Perdendo-se as lembranças da memória,
Pois fazem tanto dano ao pensamento.

Assim que nada perde quem perdida
A esperança traz de sua glória,
Se esta vida há-de ser sempre em tormento.


Luís Vaz de Camões

domingo, 6 de dezembro de 2009

...Meu para sempre

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."


Miguel Sousa Tavares

sábado, 5 de dezembro de 2009

Silencio

- estás tão ausente.
- também tu estás ausente.
- diz-me porquê.
- diz-me também tu porquê.
- isso entristece-me tanto.
- e como pensas que me sinto.
- o mesmo te pergunto eu.
- és tu que me tornas ausente.
- mas eu estou aqui.
- eu também, deixa lá!

(silêncio).


'Livro da noite' [edição quetzal, 2004, tradução de maria joão reynaud, pág. 35] - per Aage Brandt

Rihanna - It Just Don't Feel Like Christmas




Another day, another reminder.
That you're not here with me.
I watch the snowflakes falling from the skies.
I get lost in memories.
The time we try to build a snow man.
The time we try to count the stars.
It's crazy how we didn't know that.
That we'd ever be apart.


I can hear the music playing.
See the lights upon the tree.
I can feel the joy in every soul.
But for me it's incomplete.
And i try my best to play the part.
But no matter what i do.
No, it just don't feel like christmas, without you.
Youuuuuu, you, you. No.


Another tear, another regret boy.
That your so far away.
Can't believe it was only last year.
We shared that christmas day.
Remember when we took the sleigh ride.
Remember singing by the fire.
There's not too muches in the day light.
I keep re-living you and I.

(Chorus)

The time we try to build a snow man.
The time we tried to count the stars.
It's crazy how we didn't know that.
That we'd ever be apart.

(Chorus)

No, it just dont feel like xmas, without you...Oooh baby.
See I try but I just didn't ride. Without you.

Somos Felizes...?

"...somos felizes. acabámos de pagar a casa em outubro, fechámos a marquise, substituímos a alcatifa por tacos, nenhum de nós foi despedido, as prestações do opel estão no fim. somos felizes: preferimos a mesma novela, nunca discutimos por causa do comando, quando compras a «tv guia» sublinhas a encarnado os programas que me interessam, lembras-te sempre da hora daquela série policial que eu gosto tanto, com o preto cheio de anéis a dar cabo dos italianos da mafia.
somos felizes: aos domingos vamos ao feijó visitar a tua mãe, ficas a conversar com ela na cozinha e eu passeio com o indiano, filho de uma senhora que mora lá no pátio; assistimos ao básquete dos sobrinhos dele no pavilhão polivalente, comemos uma salada de polvo no café durante os resumos do futebol, e voltamos para almada à noite, com o jantar que a tua mãe nos deu numa marmita embrulhada no «record», a tempo de assistir às perguntas sobre «factos e personalidades» do concurso em que a apresentadora se parece com a tua prima beatriz, a que montou um pronto-a-vestir no centro comercial do prior velho.
somos felizes. a prova de que somos felizes é que comprámos o cão no mês passado e foi por causa do cão que tirámos a alcatifa, que as unhas do animalzinho rasparam de tal forma que já se notava o cimento do construtor por baixo. andamos a ensiná-lo a não estragar as cortinas, pusemos-lhe uma coleira contra as pulgas depois de uma semana inteira a coçarmo-nos sem entender porquê, passados dois dias o fernando começou a coçar-se também e a acusar-me de cheirar a cachorro e levar pulgas para a repartição, o chefe avisou-me do fundo
- veja-me lá isso, antunes, de modo que pus também uma coleira contra as pulgas debaixo da camisa e o dionísio, espantado - deste em cónego ou quê? e eu, envergonhado, a abotoar o colarinho - é uma coisa chinesa para o reumatismo, a jóia magnética vitafor é uma porcaria ao pé disto e como nas finanças se respeitam o reumatismo e as coisas chinesas, nunca mais me maçaram.
às segundas, quartas e sextas sou eu que vou lá abaixo levar o cão a fazer chichi contra a palmeira, às terças, quintas e sábados é a tua vez, e o que não vai lá abaixo fica à janela a olhar o bichinho a cheirar os pneus dos automóveis, com um ar sério de quem resolve problemas de palavras cruzadas que os cães têm sempre que farejam postes e unos.
somos felizes. por isso não me preocupei no sábado com o animal, muito entretido na praceta, e tu atrás dele, de trela enrolada na mão, sem olhares para cima nem dizeres adeus, a andares devagarinho até desapareceres na travessa para a estação dos barcos. foi anteontem. às onze horas tirei o cozido do forno e comi sozinho. ontem também. hoje também. não levaste roupa, nem pinturas, nem a fotografia do teu pai, nada.
ainda há bocadinho acabei de gravar o episódio da novela para ti. a tua mãe telefonou, a saber porque é que não fomos ao feijó, e eu disse-lhe que daqui a nada lhe ligavas. porque tenho a certeza de que tu não te foste embora, visto sermos felizes. tão felizes que um dia destes vou comprar um micro-ondas para, se chegares a casa, teres a comida quente à tua espera."


( António Lobo Antunes )

Uma Ausência

"Faz frio no lugar onde te sentaste.
Cai um Novembro pardo, ameno nas conversas do tempo e há pessoas na rua a olhar para tudo o que não enxergam. Nem por isso o Sr. Lopes arrecada mais clientela; Ele que é o oculista responsável pela impossível missão de colocar uma velha toupeira a ler, de uma só golfada e sem gaguejar.
Faz frio no lugar que desprezaste.
Tenho os braços pendentes, derrotados no pesado acompanhar do corpo e não me apetece uma bebida quente, prefiro-a fria. O que por dentro queima é o baço inverso do que, por fora, me arrepia. Membros caídos, cigarro entre lábios e imagino-me a sorrir entre orelhas, através dos braços e condoído das pernas – a sorver o branco que te fará nevar.
Faz frio no lugar que, no repente, negaste.
Asfixiante e poderoso, o vento que corta palavras e congela o pensamento. Neste frio sentir matriculado, vive a incerteza de um tempo que é vizinha da dúvida e parente do Lopes, senhor letrado que, antes de ver, ensina a mais comum forma de olhar. Entre este espaço e a névoa que tudo abraça, sobra uma distância que os olhos não medem; Só poderão pestanejar.
Faz frio no lugar onde te pensei ver sentada.
Lugar onde nunca o estiveste."

Porque não me tocaste?

O toque não tem passado, é um perpétuo presente que me dás, que te dou. Na ausência de ti, sinto-te no sentir e a imaginação sorri. O toque que partilhamos foi para sempre.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Difícil poema de amor

"não calhasse morrer um de nós primeiro que o outro porque ambos ao mesmo tempo será impossível enquanto não houver relógios que meçam este tempo e as horas fielmente se adiantarem e atrasarem. (...)
o teu amor espreita o meu corpo de longe. de longe por gestos lhe respondo. tenho raízes nos vulcões ternuras íntimas medos reclusos beijos nos dentes. (...)
inventei a nossa morte em toda a impossível extensão das palavras. aterrorizei-me segundos a fio enquanto em corpo nu ouvindo-me adormecias devagar. com a precaução de quem tem flores fechadas no peito passeei de noite pela casa. um fantasma forçou uma porta atrás de mim. gemendo como um animal estrangulado acordei-te. enterro o meu terror como um alfange na terra. porque é preciso ter medo bastante para correr bastante toda a casa celebrar bastantes missas negras atravessar bastante todas as ruas com demónios privados nas esquinas. só o amor tem uma voz e um gesto mesmo no rosto da ideia que me impus da morte. és tu tão 'única' como a noite é um astro. sobre a poeira que te cobre o peito deixo o meu cartão de visita o meu nome profissão morada telefone.
disse-te: eis-me.
e decepei-te a cabeça de um só golpe.
não queria matar-te. choro. eis-me! eis-me!"



'difícil poema de amor' ['terra imóvel', portugália editora, colecção novos poetas, 1ªedição, 1964] - luiza neto jorge

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

have u?

Have you ever been touched like I touch ya?
Been held like I hold ya?
Been loved like I love ya?
Be Real.
Be Real.
Have you ever been seen like I see ya?
Been heard how I hear ya?
Been felt how I feel ya?
Be Real.
Be Real.